Estava lendo o livro “É Sagrado Viver” do Padre Fábio de Melo, e me deparei com esse pequeno texto, onde paramos para pensar no poder das palavras e como sua força decai diretamente sobre nós quando deixamos elas nos atingirem, seja de forma positiva ou não, e como elas podem nos construir, mas também destruir. O Padre escreve de forma poética e nos deixa livre a interpretação.
– Artifícios
“O ressonar sereno da palavra é a afirmação de que a vida segue viva. Afoita, calada, pronta, inacabada, não se permite amordaçar pelo tempo. Passa, deixa, leva, traz. Não importa! Viver é conjugar o verbo que se insinua sem docilidade e se apodera da contingência existencial do infante poeta.
Dores e ausências são matérias cotidianas. Alegria, por vezes. Se vier mais frequente, a poesia se vai. Melhor que se esconda por perto, caso seja solicitada, para que esteja à mão, sem estar. Ela substitui a palavra, amordaça o verbo, desaponta a caneta, tempera o poeta.
A sobriedade é raiz fecunda, projeto válido para quem deseja o fundo e não se contenta com a primeira fala. A força contrária desenvolve heróis. A força da fala revigora o gesto. Palavra são artifícios da alma. Diz quem quer. Ouve quem pode.”