Esse texto trás uma reflexão bastante pontual dos dias atuais. O medo da morte, a filosofia e o talvez são parte dos nossos pensamentos desde os primórdios da humanidade.

O MEDO DA MORTE, A FILOSOFIA E O TALVEZ

Filosofia não!!! “Talvez” é uma palavra que talvez possa ser sempre usada na filosofia, pois expressa em si mesma a ideia de possibilidade, de vir a ser – ou não vir a ser, parte da hipótese que pode ser confirmada ou refutada, pouco é vista na poesia. É por meio das palavras que nós humanos comunicamos desde os primórdios ainda na pré-história, somos seres sociais, talvez essa seja nossa maior qualidade perante a natureza. Não temos garras, não voamos, não respiramos sob a água, não temos uma velocidade admirável, nenhum veneno contra nosso predador. Nada, nenhum super poder natural, temos o polegar opositor, nosso cérebro e o talvez. O polegar opositor nos permite um manuseio refinado com controle motor, o nosso cérebro garante a capacidade de memorizar, memorizar nos possibilita organizar o pensamento, e ao organizarmos o pensamento por meio das palavras, desenvolvemos e necessitamos da linguagem. As palavras foram constituintes da caminhada da humanidade e é delas que vem o talvez, isto é, todas nossas possibilidades.

Mosé (2013) contextualiza a forma em que o ser humano no decorrer da história acabou por criar um método próprio de vida, o que acaba diferindo ele dos demais animais. Na história e na filosofia há registros de que o primeiro ato que o homem teve como consciência permanente, foi o de ter descoberto a própria morte, ou seja, passou a ter a consciência de que a vida tinha um final. Este simples aprendizado levou ao primeiro ritual, o de enterrar os mortos, em sinal de respeito (nascia também como um princípio de moral e ética), o cadáver é meu futuro, portanto merece respeito. A partir desse saber o Homo Sapiens Sapiens (homem que pensa e sabe que pensa), não parou mais de se humanizar. Leia-se: desenvolver cultura.

Assim o rito de morte trouxe outras perspectivas para a humanidade já que sendo o único animal com consciência de sua finitude, passou a desenvolver estratégias de sobrevivência. Desenvolveu as primeiras regras de convívio, dos ainda pequenos agrupamentos humanos, o culto aos mortos deram origem para mitologia e as religiões que basicamente buscam na essência do homem as respostas para as grandes questões da vida: Como surgimos? Onde estamos? E para onde vamos? – Nas buscas por dar respostas para estas perguntas, o ser humano foi se afastando de sua natureza (de seus impulsos instintivos), e seguindo por um caminho sem volta, desenvolvendo habilidades, como, a linguagem (por meio de símbolos em pinturas rupestres) e a comunicação (pequenos dialetos que tomaram formas complexas de línguas), assim como melhorias em sua condição de vida, passando a desenvolver instrumentos e ferramentas para o trabalho.

A partir disso, têm-se novas estratégias de sobrevivências, mantidas pela caça, pesca, a “domesticação” do fogo, e um pouco mais adiante na história o desenvolvimento da agricultura e a domesticação/dominação de animais.

No decorrer desta longa história, as relações do ser humano com a natureza, e a luta por sua sobrevivência, se deu sempre pela produção de trabalho, que nada mais é, do que criar condições para a melhoria da vida. O Homo Sapiens Sapiens, deixou aos poucos de habitar as cavernas em pequenos grupos, para desenvolver novas formas de habitação, pois os grupos, aos poucos, com as melhorias de condições de vida, já passavam a ser mais numerosos. O humano, então utilizou de elementos da natureza, para construir sua moradia, com palha, capim, madeira, barro, argila, e tudo mais encontrado na natureza, para promover sua proteção do sol, da chuva, e quaisquer tipos de predadores. Nossa cultura talvez seja a soma do polegar opositor, da memória, da linguagem, do convívio social, e do talvez.

Neste sentido, a organização da vida em sociedade, é mantida por meio das relações e de sua própria produção, ou seja, do trabalho, e o trabalho parte do pensar humano. Este pensar é o que oferece meios para o aperfeiçoamento e melhoria do trabalho, que implica em mudanças na cultura, em outras palavras mudanças nas relações, pois somos seres sociais. Talvez a humanidade trabalhe por medo. Medo do desconhecido, medo da morte, medo de sofrer, medo do futuro, medo de envelhecer, pois é na velhice que a morte vem, e para alguns muitos antes disso.

A humanidade talvez trabalhe para melhorar sua existência, trabalha para viver, trabalha para produzir, trabalha exaustivamente para deixar de viver, para não ter tempo para pensar. Viver de trabalho é vida? Talvez! Mas a filosofia sim, ela sempre está presente, mesmo quando com palavras negamos, é ela a constitituinte de nosso todo e do nosso talvez, e esbanja possibilidades. A pandemia nos aproxima do nosso maior abismo – a morte – com ela não tem talvez, é só a filosofia para dar conta!!!

Referências

BORGES, Vavy. O que é História. Coleção Primeiros Passos. Ed. Brasiliense, SP, 1993.

MOSÉ, Viviane. O Homem que Sabe. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2013.

Gabriel Rocha Freitas

Estudante de Pedagogia da Faculdade de Educação da UFG






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