“Agradeço à minha família pelo incentivo, apoio e por sempre acreditar no sucesso de minhas escolhas e ao meu povo por lutar e resistir para que possamos escrever histórias como essa”.
Hemerson Pataxó, de 25 anos, se tornou o primeiro estudante indígena a conquistar o título de mestre pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) em um curso das Ciências Exatas.
De cocar, colar, de rosto pintado e muito emocionado, o novo mestre em Química Orgânica agradeceu, nas última sexta, 3.
“É muito forte para mim falar disso, me emociona. Mas sempre agradeço ao meu povo porque eu sou eles. Eu estou aqui, mas eu estou lá também. E eles estão aqui comigo”, contou.
Todo o estudo de ensino médio foi feito ainda na aldeia, e é este um dos motivos que levaram o estudante a escolher portar os símbolos da sua cultura ao defender sua tese de mestrado.
Para Hemerson, a permanência na universidade sempre foi uma questão presente.
“É muito difícil para os indígenas permanecerem aqui, tanto pelo aspecto financeiro, quanto pela questão da base que muitos não têm. Tem coisa que você não conhece, que você vai aprendendo à medida em que elas vão se apresentando para você e é preciso aprender para continuar”.
O choque de culturas, inclusive, foi algo que marcou bastante o início da trajetória acadêmica do mestre em química.
“No meu povo existem condições sociais diferentes, mas todo mundo tem o seu cantinho. Quando cheguei na cidade e vi um morador de rua foi um susto”, contou, ao ilustrar as diferenças.
A convivência com os colegas de universidade foi um aprendizado para os dois lados.
“No começo, todo mundo me chamava de índio, mas eu tenho um nome, eu sou Hemerson. Aos poucos eles foram entendendo que nem todo índio anda nu, que nem toda casa é de barro. A minha comunidade mesmo tem mais várias décadas de contato com a população não indígena. Tem índio lá que dirige, tem celular”, contou.
Nos próximos passos, o agora mestre pretende unir ciência com o conhecimento milenar do seu povo.
“Quero levar o conhecimento que a química me deu para o meu povo, juntar com o que sabem os meus anciãos e escrever algo que leve em conta os dois lados”, explica.
“Há muito tempo atrás nossos guerreiros lutavam com flechas, hoje a nossa luta é com a caneta”, diz Amari Pataxó, 39.
Hoje ela desenvolve um trabalho na própria aldeia voltado para a língua pataxó.
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